NOSTALGIA
Hoje eu acordei com saudades de minha infância
Com saudades das travessuras
Do gosto do doce
Do cheiro da flor
Hoje me lembrei de como era bom observar o céu
Formar anmais com as nuvens
Contar as estrelas
Seguir no clarão da lua
Hoje sinto falta de acordar ao som do despertar do galo
De sentir o sabor do leite fresco
De degustar uma broa quente
E papear na taipa do fogão
Hoje sinto saudades de viajar com a imaginação
Na leitura dos contos e poemas
Na beleza das imagens
Na poesia da arte
Hoje me recordo de como era bom estudar em papel de pão
Em tremer de medo da tabuada
Em cair na corrida de pique
E ficar roxa na queimada
Hoje sinto falta do gosto da fruta sem agrotóxico
De colher o encanto do voô dos pássaros
De gangorrar no cipó e cair no brejo
De contemplar o nascer do sol
Hoje gostaria de ouvir mais uma vez o zunido do carro de boi
E ver a boiada no estradão
O ruído do rádio de pilha
E o cheiro gostoso do café no fogão
Hoje queria vislumbrar como pela primeira vez o arco íris
O encadear das cores e sincronia das misturas
A diferença complementar de cada uma
Num anelar de fantaisa
Hoje queria dormir sob a luz da lamparina
Ouvir a cantiga da cigarra a me ninar
Dormir com o barulho do riacho
Acordar com o cheiro da romã na janela
Hoje gostaria por um minuto apenas me reportar aquele tempo
Gostaria de reter aquelas células de sensibilidade
E num instante de nostalgia me deter
Naquela infância terna e sublime
26/11/2008