Porque estou aqui???
Ainda consigo gritar, escrever
Meu papel principal, uma folha de jornal
Um amanhã sem futuro
Um pássaro sem rumo
Um alguém qualquer
Qualquer um pode me levar
Até o vento quente da tarde
Na esquina quebrada pelo bêbado
No escritório perdido no centro da cidade
Qualquer hora é hora de partir
Minha mala está sempre pronta
Não vejo nada na frente deserta
Meu corpo, silhueta sem corte e aberta
Fico assim a imaginar o mundo
Lá fora fica o eterno nada
Minha alma em busca da tua
Sem ter uma noite enluarada
Na gaveta um retrato apagado
No coração um eterno machucado
No ombro o peso da sorte
Nos pulsos as marcas da corrente
Nos pés uma corda presa ao cais
Não quero beber o mel de sua boca
Só sentir o doce da saliva
Sem olhar me miro no espelho
Reflexo de minha eterna partida
Sem rumo, norte, sul...
Céu azul, areia quente
Barco sem rumo, navio sem prumo
Gotas de orvalho, já é madrugada
Sereno mundo, mundo amargo
Doce é a irmã liberdade
Deixa-me beber nesse cálice
Nem que seja a última gota....