Porque estou aqui???

Ainda consigo gritar, escrever

Meu papel principal, uma folha de jornal

Um amanhã sem futuro

Um pássaro sem rumo

Um alguém qualquer

Qualquer um pode me levar

Até o vento quente da tarde

Na esquina quebrada pelo bêbado

No escritório perdido no centro da cidade

Qualquer hora é hora de partir

Minha mala está sempre pronta

Não vejo nada na frente deserta

Meu corpo, silhueta sem corte e aberta

Fico assim a imaginar o mundo

Lá fora fica o eterno nada

Minha alma em busca da tua

Sem ter uma noite enluarada

Na gaveta um retrato apagado

No coração um eterno machucado

No ombro o peso da sorte

Nos pulsos as marcas da corrente

Nos pés uma corda presa ao cais

Não quero beber o mel de sua boca

Só sentir o doce da saliva

Sem olhar me miro no espelho

Reflexo de minha eterna partida

Sem rumo, norte, sul...

Céu azul, areia quente

Barco sem rumo, navio sem prumo

Gotas de orvalho, já é madrugada

Sereno mundo, mundo amargo

Doce é a irmã liberdade

Deixa-me beber nesse cálice

Nem que seja a última gota....

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 11/11/2008
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