Saudade

Saudade traz o outro sem nos dá-lo de presente

Vemos sem tocar, ouvimos sem o seu hálito

Temos o cabelo a balançar, mas onde está o perfume?

Sim, sentimos seu cheiro, mas não coçam as narinas

A saudade te entendia, mas tu não te podes enfastiar

Te enches de ardor, mas não te preenches com calor

Te sentes picado, mas agora sem soro a curar

Esticas os braços à roda, mas onde estão os pares?

A saudade te deixa ouvir a música, mas não te faz dançar

Ouve-se o som, mas o chão continua imóvel aos pés

Se o chão treme, não se é soterrado por sensações

E quando se sente algo, não é algo, não há tato

Tu sentias falta de sentir falta, mas agora sentes falta de outro ou de algo...

Do nada.