Saudades de Bela Vista
Saudades de Bela Vista
Beth Faria – Cad. 35 ACIL
Iomar,
Quanto aperto no peito me dá!
Lembrar das manhãs com o sol a raiar
E as tardes também com o vento chegar.
Debaixo daquelas árvores
Onde brincavam: você, eu e nossas irmãs
Quanta saudade, com gravetos poder!
Nossos próprios brinquedos fazer.
Lembro – me da casa de sopapo
Adornada de maneira singela
Do pilão, da moringa e da gamela
Que ficavam bem na altura da janela.
Ieié com seus olhos azuis, que tranqüilo rapaz !
Tinha história que não terminava mais
Até que um dia, com sua estripulia, sem perceber
Pôs fogo na casa velha de sapê.
O latido do Genário e da Turquinha
A gente ouvia lá da cozinha
Enquanto na parede do quarto, pelas frestas
Olhávamos o céu em noite de lua cheia.
Iomar,
Quanta saudade me dá!
Do morro da terra vermelha, que servia de escorrega
Daquele pé de ingá que de tantos galhos se arrastava .
A gangorra de pau-a-pique
Quanta emoção nos trazia!
Boneca de pano, que nada de tecnologia
Aprender precioso, que só mãe Alba sabia.
Cercadinhos compunham nosso cenário,
Ao lado da pedra gigante e cinzenta.
O pé de laranja azeda, que até hoje me faz salivar
Jamais foi encontrado em qualquer outro lugar!
Era o sabor da infância
Que ficou no tempo à distância !!!