Na tua madrugada
Nesta mesa esquecediça hoje escrevo
todos os versos que gastarei de mim.
Meus cegos olhos buscarão um caminho
e pisarão no meu coração, nas velharias
que guardo nos bolsos antigos com lenços,
fósforos, aspirinas e um a foto 3X4.
Farei escassos parênteses entre mim
e os teus abraços invisíveis.
Deixarei correr a hora verde dos teus olhos
sem saber seguir-te nem gritar-te.
Só posso encher as mãos na breve taça
que vejo vazia na tua madrugada.
Porque és longínqua e inexpugnável.
Aponto aqui um olhar pouco lido
que em silêncio transcende
um verso sem sentido.
É só uma luva vazia que aponta
aqui e além um caminho de ar e chuva
sem céu e sem ninguém.
Versos nos rastros de Renault