O lenço de um anjo
Alva dama,
De negro vestida,
Parcamente enfeitada.
Sob o véu pesado,
Na face marcada
Pelas lágrimas e pelo pesar
Está uma menina a chorar
Sob o forte vento,
Que vem trazer a chuva
E seu corpo ensopar...
Mas ela não se importa
E continua ali, parada.
Não sente a chuva,
Não sente nada...
A dor é tão grande
Que ela nem sente as próprias lágrimas...
Teve parte da alma amputada.
E ela,
Qual alvo fantasma vestido de negro,
Tenta compreender...
Tenta aceitar...
Por que razão é ela
Que está ali, a prantear,
Não quem se foi e tinha toda vida pela frente.
Essa questão se repete a cada lágrima quente
Que pela face alva continua a rolar.
Morte é morte,
Não adianta negar...
Mas é o luto quem consome a alma.
A saudade que vem, que rouba calma...
Aquela sensação incomoda de que todo tempo não foi suficiente...
Enquanto isso um anjo a olha,
Paciente,
Segurando um alvo lenço em suas mãos...
Ele bem conhece a dor daquele coração,
Pois desde menina, ele vive por ela a zelar...
Conhece cada nuance de seu ser,
De como vê a vida, a morte,
O tormento, o temer...
É por isso que ele espera o momento
Em que o lenço irá lhe estender
E em saudade a dor tornar...
O luto é momento pro coração chorar,
Pena que tem pessoas que não entendem bem...
E não sabem a sorte de quem tem
Um anjo pra lhe estender um lenço
E lhe amparar...
Afinal, nem tudo na vida é chorar...
Mas existem momentos em que não tem jeito...
Morte é morte,
E dói no peito
Não ter mais aquele alguém para abraçar...
Só resta o lenço do anjo da guarda aceitar,
Junto com o abraço confortador...
Para então rezar ao criador, pedindo:
"cuida bem de minha amiga...
Até o dia em que eu a reencontrar"
(Para Eunice
Que deixou este mundo cedo demais -
Voa com os anjos, amiga)