Declaração
Eu que não tenho voz
que não tenho movimento
que não te vi caminhando
pestanejando
que não espreitei nos teus lábios
a saliva
nem nos teus dedos as asas
eu que sou puro olhar
na distância
que não tenho alento
nem pés
que nunca me virei
para que soubesses das minhas costas
que quando as palavras
não escutei ainda
teu calamento
eu para além do oceano
que sou apenas imagem velada
apenas traço
com traços te digo
eu que não sou nada
que não conheço modo de ser
mais que essa impotência
eis onde meu canto
no eco eco ando
minhas asas todas
te digo com traços entristados que
eu sem ti
não sou nada