Saudade à vista
Se houvesse congregar...
Juntar a todas no mesmo agüentar
E sentir de uma vez
Toda a saudade que sentir se faz
Pagar a vista esse encargo do passar do tempo
Juntado bem socado num só bocado todo sentimento
Engolir sem mágoa, para não ser mais seco
E deixar explodir bem no centro atrás do peito
Sujaria de pedaços de romance ao próprio coração
Espirraria no fígado gotas de paixão
De alegria as vísceras se regozijariam
Enquanto em banho maria o pulmão ficaria
A energia que se desprenderia em flecha
Atingiria o cérebro que em confusa e festa
Esqueceria sua função de pensar
E desligava o cabo desse andar
Entre o torpor corrente da pane dos sistemas
E de um caos tão lancinante instalado
O ser submetido ao tal estratagema
Retornaria só aos poucos desse estado
Mesmo pequenos choques restariam
Resíduos da abruta e louca agonia
Dando lugar a um novo e inusitado estar
Parecendo saudade das saudades
Que, ao menos por agora, não mais estão lá.