TAPE DE ANTANHO...
Em meu cavalo de pau
imaginava-me em um
fogoso alasão,
nos tempos de menino
de sonhos miríades
A cabeleira gaforina,
topete desgrenhado
sobre a testa.
A família em torno da grande
mesa de pereiro branca.
Profusão de pratos e
fumegantes travessas esmaltadas
Os irmãos, os amigos,
as brigas,
os puxões de orelha -
corretivos e doloridos.
A calça-curta,
o correão de couro.
Pés no chão,
dedos estropiados
de tanto tropeção
Matas verdes...
Pássaros se expondo,
peitos abertos,
aos estilingues certeiros
de forquilha de goiabeira
Cheiro de terra molhada.
Formigas Tocandira
num vaivém em trilha sulcada
na Mata do Guará
com seus umbuzeiros centenários
e dadivosos
Os banhos na chuva
e o refresco na bica de zinco
da casa avoenga.
De vez em quando, com a água fria,
descia também cocô seco,
do gato que habitava a cumeeira
Os carrinhos de pau
simulavam caminhões
carregados de algodão.
Viagens longas fazíamos:
a ponte do rio Mosquito
era o Rio de Janeiro.
A fazendo do “seu” Anísio
era o Recife.
Quanta imaginação!
Num ímpeto, realidade volta
e lágrimas rolam abundantes
sobre a face já encarquilhada.
BH, mar/2008