TAPE DE ANTANHO...

Em meu cavalo de pau

imaginava-me em um

fogoso alasão,

nos tempos de menino

de sonhos miríades

A cabeleira gaforina,

topete desgrenhado

sobre a testa.

A família em torno da grande

mesa de pereiro branca.

Profusão de pratos e

fumegantes travessas esmaltadas

Os irmãos, os amigos,

as brigas,

os puxões de orelha -

corretivos e doloridos.

A calça-curta,

o correão de couro.

Pés no chão,

dedos estropiados

de tanto tropeção

Matas verdes...

Pássaros se expondo,

peitos abertos,

aos estilingues certeiros

de forquilha de goiabeira

Cheiro de terra molhada.

Formigas Tocandira

num vaivém em trilha sulcada

na Mata do Guará

com seus umbuzeiros centenários

e dadivosos

Os banhos na chuva

e o refresco na bica de zinco

da casa avoenga.

De vez em quando, com a água fria,

descia também cocô seco,

do gato que habitava a cumeeira

Os carrinhos de pau

simulavam caminhões

carregados de algodão.

Viagens longas fazíamos:

a ponte do rio Mosquito

era o Rio de Janeiro.

A fazendo do “seu” Anísio

era o Recife.

Quanta imaginação!

Num ímpeto, realidade volta

e lágrimas rolam abundantes

sobre a face já encarquilhada.

BH, mar/2008

Itamaury Teles
Enviado por Itamaury Teles em 26/09/2008
Reeditado em 13/08/2009
Código do texto: T1198509
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