1993
O retratinho scanneado,
Meninos sorridentes, inquietos,
Estourando alegrias.
Eu, o menor, sereno.
Eu - quieto
Sofrendo o momento do flash...
Os meninos todos meninos e eu também pouco menino.
Meninos pequenos, felizes.
Meninos na foto - a turma "b" da tia Nize.
Meninos de felicidades eternas...
Tudo era bonito ao infinito...
A vida cresceu,
E também todos os meninos
Formaram homens, mulheres de negócio,
E nunca mais serão meninos retratados,
Nunca mais meninos puros,
Nunca mais.
Os pequenos pularam décadas.
Cris, Joaquim, Alan, Wesley
Danilo, Diego, Fábio, Valéria,
Eliana, Érica, Juliana...
Nossa! todos eles...o tempo passou
E morremos de infância,
Afetamos as crianças imóveis, ali,
Somos grandes, muito. Enormes.
Meninos de pedra polida, endurecidos,
Nunca mais meninos doces, de outrora...
Por que, tia Nize, dói tanto?
É a saudade do nunca-mais?
O medo do inverno da velhice?
Ou, mesmo, medo desses meninos adultos
Que cresceram e esqueceram de ser meninos?
Não sei. Dói. O ano era de 1993.
Cresci. Empedrejei, virei homem.
O olhar, entanto, oblíquo permanece;
Parece, inclusive, que cresci quieto
Observando o amor nos outros,
Como o menino da foto, aquele, o Diego,
Que parecia - para sempre! - ser menino...
A escola, o pátio, as brincadeiras...
"Olha o passo do elefantinho" - cantarolavas,
E os meninos, em coro, repetiam, desmedidos de amor...
Bola queima, os livros ilustrados, as estórias de fadas...
Todos silenciavam uma imaginação:
- a alegria em pensamento, a infância em asas...
Meu maior medo era o pai e o vô, carrancudos,
Repreendendo, no fim da aula, as coisas erradas que a gente fazia...
Medo das coisas hoje pequenas, mas que eram grandes,
Medo da tia ralhar, quando se pedia pra ir ao banheiro,
Medo bobo, medo doce. Medinho de meninos que nunca cresceriam...
Vô morreu,
Também a vó.
Mataram o menino
E o mundo continua inatormentado.
Hoje, a foto.
Ontem, os meninos:
(as risadas continuam na memória)
Meninos que fazem saudade,
Meninos de muitas melancolias,
Para sempre, meninos.