NÃO TENHO SAUDADE...

Serei raro, estranho e inconsciente:

Sem dúvida.

Mas careço de toda a sensação de saudade.

Certo.

Apenas pressinto a urdume dos segundos

e dos minutos...

Com as horas talvez fosse

enredar demais...

Nessa urdume procuro

extraviar-me laberíntico até achar algum

Minotauro, que escapasse da veiga, anual

e festiva, que em Castela tanto celebram...

Não sei por que, mas por vezes me vejo

impúdico Asterião no espelho das horas...

Das horas, não: dos minutos, dos segundos.

E aguardo, paciente, que uma Ariadne piedosa

dê enfiados conselhos ao Teseu amável, o qual,

vencidos os enredos dedáleos, me livre

deste corpo de morte e me torne imortal

ou quase.

Sem saudade, nenhuma saudade.