Memoranças

A saudade veio depressa

com a solidão dos corpos.

"A tarde entardeceu dentro

do que chamei, dias depois,

de escuridão pós-absoluta."

Era criança acirandada,

e meu pai avisava:

que a vida rosnava impossibilidades;

e, bem advertidos, só sonhavámos

o básico das estórias de amor,

das cavalgadas, lendas pequenas,

pura vida infinita de criança.

Meu irmão cresceu depressa.

Meu irmão morreu depressa.

Ambos gêmeos tínhamos pactos com chuvas.

"Um dia, entretanto, aprendi a coisar,

e fiz o que eu queria mais:

o método mais sutil de evolar-se:

O céu anil por vespertino descolorar-se,

as gaivotas em "v" viajavam voazes,

e, truncado, avião a-jato riscou anilícias,

quebrando meu sonho ao meio."

Caído e atordoado, sem choraminganças,

acordei acordável, memorável,

com gosto de algodão-doce na boca.

(Die)

Fernando Marini
Enviado por Fernando Marini em 06/09/2008
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