VIAGEM AO PASSADO
VIAGEM AO PASSADO
Hoje eu estou só.
Estou só até de mim mesma.
E disse, um dia,
que a solidão eu não conhecia!
Pensava estar falando a verdade,
Ou a verdade tivera avaria?
O que se passa na mente aflita,
Que se debate, chora e grita?
Que emoções são essas
que consomem minha alma?
Porque choro?
Por quem e para que, esta agonia?
Pressentimento de algo
Intangível, concreto?
Vagueio, devaneio e corro.
Este esforço é infrutífero
e clamo a Deus: Socorro.
Dê-me um sinal de Vossa Presença!
Mas o silêncio é a sentença.
O passado me assombra.
Não diz nada de trágico,
nem que a tristeza me consumiria.
Então, por que este medo de nele penetrar?
O que pode haver, nesta casa vazia,
senão meus bens e meus queridos, que se foram?
Que mal podem me fazer, estes fantasmas,
se só amor e carinho eles me deram?
Coragem!
São apenas recordações,
Cartas, cartões e retratos.
Enfrenta os fatos e as imagens,
que lhe oprimem, desaparecerão.
Vasculha o sótão e desce ao porão.
Leva contigo uma vassoura,
um pano de chão e um espanador.
Se há janelas, abra-as.
Acende a luz e vê: apenas seres inanimados,
Pedaços da tua vida, tua infância,
perdida na noite dos tempos.
Nada mais.
Este passado que te assombra e atemoriza,
é pura fantasia, uma quimera, uma aparição.
Simples produtos da tua imaginação.
Seja corajosa e encare-os.
Eles não permanecerão à luz do dia.
Enfrente-os, confronte-os
e despache-os para o lugar de onde vieram.
Desta forma, fique livre do sofrimento,
da consumição que nem existe:
Tudo isso é fruto de lembrança mal resolvida
e poeira acumulada por tantos anos.
Contempla-te no retrato antigo.
Lembra do dia da formatura,
dos amigos e abraços que te comoveram.
Lembra da casa da infância,
Da bisavó, da avó, do pai e da mãe.
Sinta quanta harmonia havia no lugar,
quanto respeito e quanta afeição.
Como poderiam eles causar devastação?