Velho de cabeça branca
Eu nunca acertei no queria da vida
Nunca fui muito de escolher o que vestir
Depois de um tempo a gente vê que nada combina
O cinto com o sapato
O seu ego com o dela
A incompatibilidade às vezes assusta
Nunca fui muito de chorar em momentos tristes
Chamam-me de insensível só porque eu não choro
Nos momentos propícios para produzir lágrimas
Eu sempre achei isso vago
Mas quando falei com meu pai
No meu último ano novo antes de me mudar
Eu chorei nem que fossem duas lágrimas
Sempre que via o meu pai, nunca era com esse título
Eu sempre o achei meio fora de si como eu
Não ia a igreja como minha mãe pedia
E depois de um tempo percebi que ele também tinha medos
Medo de perder o emprego e não conseguir nos sustentar
Medo de me ver saindo de casa
Sempre odiei o fato de ele beber demais
Achava aquilo estúpido demais para ser verdade
Num natal qualquer ele veio até mim embriagado
Não lembro do que ele falou
Mas mesmo com o cheiro de álcool forte
E o abracei e disse que o amava
Hoje estou longe dele e sinto falta às vezes
De quando ele vinha com aquelas piadas sem graça
Ou então com os trocadilhos sem sentido
Eu aprendi que mesmo com defeitos
Eu ainda gosto daquele cara de cabeça branca
E mesmo que a gente demore a se ver
Ele sempre vai estar na minha mente