Lembranças Levadas, Veladas....
Desenhei letras rabiscadas no coração de menina,
Acreditei em sonhos e contos de fada
Pulei o muro alto do tempo, para ver o que tinha do outro lado...
Não pude mais voltar
Manchei a roupa da candura com a escuridão da realidade.
O tempo arrancou-me dos braços as bonecas,
No lugar delas carrego o peso da saudade.
A ignorância dos homens cegou-me os olhos de criança
Os olhinhos azuis ficaram negros de desesperança
Meus pés pequenos tinham os caminhos da alegria como percurso
Hoje caminho em labirintos de pedra,
Flores coloridas artificiais velam velhos sonhos
Escombros humanos caem por terras longínquas
Cemitérios crescem na alma humana
A dor invade o peito do homem
A esperança repousa moribunda no leito da descrença
Um retrato cai da estante da sala
Resta apenas uma imagem temperada com cacos de vidro
Nada restou, o ídolo talhado ingenuamente se desfigura.
O amanhecer revela o tempo passado,
O sabiá sobre a árvore vela a natureza
Lembranças cheirando a mofo
Lançadas sobre a mesa
Não há mais ninguém em casa
As cortinas estão puídas
Brinquedos velhos de velhas crianças criam traças
Sonhos montados em quebra-cabeças de ruínas
O barulho das lembranças explode no peito...
O cheiro de erva doce se espalha na alma
A noite vai abraçando o dia com deleito
Os ponteiros do relógio dançam valsa sobre o tempo
Algodão doce espalhado pelo chão,
Roda gigante flutua nos céus
Lanço memórias em cirandas de carrosel.
O túmulo das memórias invadido
Revela um tempo vivido
Alivia as dores de uma alma
Inadimplente com o tempo adormecido!
( Cassiane Schmidt)