degredo

essa mistura metabólica

de bombaim e cuszco

essa mistura étnica

de traços imprecisos

olhares perdidos

nas curvas do degredo

o tombadilho é o começo do abismo

que banhado em mar

se contrapõe ao vento.

As velas se agitam em agonia

e me levam pra longe

para um horizonte imaginado

lá, meus crimes terão morrido.

lá, minhas crenças terão sanado

lá, e somente lá

haverá um pingo apenas

capaz de resgatar ausências

reticentes do passado.

o espelho pequeno

reflete as rugas desenhadas

pelo degredo,

pela expulsão,

pelo banimento

a dor percorre em silêncio

os arcos das promessas,

corrompe os sigilos dos amantes,

e, denuncia aos miseráveis

a frágil humanidade latente

nas veias,

nas palavras jogadas ao léu

e, paradas ali bem na esquina.

essa enorme mistura

química de raças,

esse mixer antropológico,

vestígios culturais,

guturais

gestos percorrendo mãos

mãos percorrendo corpos

e almas a procura de um porto.

fugir era preciso,

existir não.

resistir menos ainda.

Todo esse mar,

essa brisa a embriagar

de enjôos e de

estreitos convés.

O balouçar constante das

ondas

e, no topo da espuma,

acima de todas as ondas,

a mancha do degredo,

de ser um pária

sem segredos,

sem notícias boas,

sem família,

sem bastardos a alimentar.

só há uma saída para os dgredados:

retornar do inferno para o paraíso

disfarçado de acaso.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/07/2008
Código do texto: T1083860
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