degredo
essa mistura metabólica
de bombaim e cuszco
essa mistura étnica
de traços imprecisos
olhares perdidos
nas curvas do degredo
o tombadilho é o começo do abismo
que banhado em mar
se contrapõe ao vento.
As velas se agitam em agonia
e me levam pra longe
para um horizonte imaginado
lá, meus crimes terão morrido.
lá, minhas crenças terão sanado
lá, e somente lá
haverá um pingo apenas
capaz de resgatar ausências
reticentes do passado.
o espelho pequeno
reflete as rugas desenhadas
pelo degredo,
pela expulsão,
pelo banimento
a dor percorre em silêncio
os arcos das promessas,
corrompe os sigilos dos amantes,
e, denuncia aos miseráveis
a frágil humanidade latente
nas veias,
nas palavras jogadas ao léu
e, paradas ali bem na esquina.
essa enorme mistura
química de raças,
esse mixer antropológico,
vestígios culturais,
guturais
gestos percorrendo mãos
mãos percorrendo corpos
e almas a procura de um porto.
fugir era preciso,
existir não.
resistir menos ainda.
Todo esse mar,
essa brisa a embriagar
de enjôos e de
estreitos convés.
O balouçar constante das
ondas
e, no topo da espuma,
acima de todas as ondas,
a mancha do degredo,
de ser um pária
sem segredos,
sem notícias boas,
sem família,
sem bastardos a alimentar.
só há uma saída para os dgredados:
retornar do inferno para o paraíso
disfarçado de acaso.