INFÂNCIA

Felicidade tão perto, voraz

percepção do novo,

tempo bastante para desperdiçar

o hoje.

Vivas lembranças do ainda

ontem,

o amanhã tão longe.

Sabor de morango, chuva

no quintal.

Latido de cão,

a rã no bolso da calça

- nada mais natural,

mamãe...

Atiradeira invencível,

pedaços de vidro

espalhados pelo chão.

O cheiro de hortelã,

pipa no ar.

Caminho de terra,

relva úmida,

a casa da vovó.

Um silêncio estranho,

familiares distantes chegando.

- Papai...o vovô

não quer mais brincar.

Bola de gude, bola de meia

a correr pela rua,

sempre no rastro

da lua cheia.

- Menino, já para cama!

O quarto-esconderijo, prendendo

minhas asas de anjo.

Medo do escuro,

segredos no porão.

Mariazinha não tem medo não...

O primeiro beijo é assim mesmo?

Ah!... nunca mais viver

aquela sensação.

Liberdade até andar

entre gigantes.

Será que um dia ainda vou?

Natal de muitas

árvores,

presentes tão bons e tantos.

Mamãe chorava

nessas horas...

meu pai escondia o pranto.

Quando eu crescer, quem sabe?

De repente, estampada no palavrão

- maioridade -

o prenúncio da dor.

Acabou-se o que era doce...

quero voltar, por favor.

Flavio Villa Lobos
Enviado por Flavio Villa Lobos em 20/06/2008
Código do texto: T1043932
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