Infância

Esta música

lembra minha infância

Não sei se pela chuva

nela contida,

das tristezas alí derramadas,

que escorrem pelos cantos

das calçadas nas aguaças

de um verão intérmino.

E se havia chuva

não havia alegria

da bola de gude,

pipa no ar,

jogar pelada ao longo

do meio-fio.

E se jogava botão,

loto-surpresa, burro em pé.

Como era chata a chuva

da infância:

não se podia sair (olha o resfriado!).

Muitas vezes contentei-me

em ficar à janela olhando

os rios dos meio-fios,

com seus barquinhos

e náufragos,

que fugiam da imaginação,

nem sempre compreendida.

O dia seguinte era esperado

com a ânsia daquelas

manhãs natalinas,

quando só queríamos

o dia,

o espaço,

a estiagem,

e a alegria daquele sol companheiro.

As árvores se abanavam

e moviam o vento e a roda da vida,

que passava tranquila

no moinho do tempo.