Saudade
Procuro outros rostos,
afazeres, distrações,
poesias, livros, canções,
mas só me vem o desgosto...
É desgostoso, é desgastante,
todo dia na minha estante
ver aquele teu retrato
e jamais consigo tirá-lo.
Já foi fato,
hoje é foto,
um pobre retrato
que nem se manifesta.
Mas vê-lo me dilacera o peito
e todo dia penso ter feito
o ato honorável de jogá-lo pela janela,
mas continua lá sobre a estante, tão pomposo nela.
Mal me entendo...
Ora, eu me quero bem!
E se o vendo mal me faço,
porquê não me desfaço...
Todo dia me desvio para não vê-lo,
olho de “canto”e finjo não percebê-lo,
quantas artimanhas e peripécias todo dia
são manobras, desvios e acrobacias.
Até que certa vez eu ouso, paro e o encaro,
e então vejo teu rosto limitado pelas arestas do porta-retrato,
e eu imensamente tola quanto mais o vejo pago caro,
pois menos penso em desfazer-me e mais quero pô-lo num quadro.