ΩΩ SAUDADE DE PROSEAR
ΩΩ SAUDADE DE PROSEAR
Ás vezes, á noite, me arrebata a lembrança
de meus amigos, que como eu, também freqüentam
o templo das bíblias --- o paço das confabulações
---- o prostíbulo das xavecarias ----
O lacrado reino edace das mudanças sabinas.
Estando a bordo da nave dos sonhos,
me transporto para lá. Vejo carros
enfileirados naquela congosta antiga. Fixo os olhos
na banca de revistas. Sinto o olor aprazível do caldo
de cana. Deixo que as narinas sejam dominadas pela au-
rora do ar da puberdade, que paira, reverbera e revitali-
za a rua vetusta, quem dera além a cidade!
Subo a rampa com meus pés pneumáticos
e estaco um momento na entrada daquele prédio:
olho as muradas, o chão, os vigias, as pessoas que
nele perpassam. Vou ao setor de empréstimo pegar Dós-
toievisk e Cabral de Mello Neto. Quando volto ao li-
miar do edifício, oh quem vejo, meus irmãos de ofício,
meus análogos partidos, meus caros camaradas.
Então, seguimos a longa estrada de conversas atrasadas:
pondo em dia todo um novelo de opiniões, percepções guarda-
das, experiências vivenciadas.
Ah, a gente rindo, rindo, rindo
das armadilhas que se seguem no nosso caminhar contínuo,
criadas pelo mor senhor das cartas, principalmente quando o burlamos, ao desvendarmos a finalidade das suas jogadas.
No entanto, uma lufada inesperada e dissaborosa
me doma, me afasta, arranca-me do seio amigo.
Quando me apercebo, estou de regresso, deitado no catre
ao sabor da solidão do íntimo recinto.
No dia seguinte, me consolo com o lirismo engajado
de Lila Ripoll, única flor maior do Segundo Modernismo.
Sim, ela em suas reminiscências de picardias infantis...
Sim, ela em sua melancólica luta por uma linearidade feliz...
Sim, ela, em seus versos que suscitam nostalgia e coragem,
me faz entender, que ainda para desistir, não ser tarde.
E também me apego muito ás lições de Maya:
seu estro em enfrentar as tormentas;
sua perspicaz valentia ante o cruel inimigo;
seu imenso amor á vida.
Sim, ela me recorda que a guerra ainda não está vencida,
que muitas águas hão de fluir e refluir
antes que se dê o último suspiro, aquele da irremediável partida
ao desconhecido...
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA