Visite seu passado...
Vazio.
Ausência.
Silêncio...
Apenas o bater de um solitário coração.
Um bater descompassado,
cansado, amargurado.
Minutos passam como se fossem dias...
Bom seria se fossem!
Mais próximo do fim estaria...
Aqui, imóvel, irreconhecível,
nesse leito abandonado.
A saudade, fiel.
Esta, ele sabia:
nunca o abandonaria.
Era ainda quem o mantinha vivo.
Era sofrimento, mas era alivio.
Era dor, mas também anestesia.
Ele queria enganar-se, mas não podia mais.
Tinha esperado por alguns dias.
Uma simples batida na porta...
Bater pra que, moribundo?
Ela tinha a chave.
Ela sabia o caminho e sabia que precisava dela.
Mas ela não queria - não podia.
E você, recusando-se a acreditar.
Agarrando-se a cada memória, cada pedaço dela...
Uma carta, um anel...
Por um momento pensou o que ela teria feito com ele.
Estava perdido em sua própria mente, apenas aguardando...
Um fim que parecia não querer chegar.
Ele sabia, tinha dado a ela tudo que podia.
Só depois descobriu não ser o bastante.
Não se culpava, nem a ela...
Suas palavras ainda ecoavam na mente dele,
E tinha certeza que as dele também na mente dela.
Eram dores insanas, desumanas e cruéis.
Restava a ele lembrar de seus sonhos...
Tinha vivido muito, e tinha vivido nada.
Qual seria seu legado? E como ela lembraria dele?
Um egoísta, arrogante e ignorante...
Incapaz de amar quem quer que seja.
Ele sabia, não podiam mais se ver...
E era esse seu maior desejo.
Sua maior dor, fonte de todo seu arrependimento...
Olhe pra trás.
Visite seu passado...
Quantas pessoas se foram, e quantas irão embora,
sem que façamos nada?
Ou melhor, quantas irão, e faremos tudo,
tudo para que essas pessoas se afastem de nós?
Essa era sua história.
Seu peso, seu fardo e sua dor.
Sentia seu coração dilacerado...
Sem forças, nem vontade.
De viver.
Olhe pra trás.
Visite seu passado...
Deixaste ela ir sem nem olhar nos olhos dela!
Sem nem dizer com as forças de teu peito
o quanto a amas!
E nunca, nunca mais poderá fazê-lo!
Olhe para trás!
Você é o retrato de tudo que cultivou,
É o retrato da dor que causou a quem você amava!
Puna-se agora, maldito infeliz!
Chore lágrimas de sangue,
Morra sozinho!
Sem o calor de seus braços,
a doçura dos seus beijos,
sem o carinho de alguém que o amava
como se ama a própria vida.
Tinha sido bem clara...
O pouco que restou, se foi...
Vá, vá você também.
Já é hora...
Adeus, imundo rabugento.
Se nada pôde aprender com a delicadeza de suas mãos...
Aprenda agora pelo ódio de seu coração.
Vá.
E que talvez em outro mundo,
você possa enfim...
Amá-la eternamente...
Mas agora vá,
e apenas... vá.