de olhos fechados
De olhos fechados
Abandonei o mar em sua infinitude
De olhos fechados andarei malabarista
Bem em cima do horizonte
Ocultei minha face triste
De olhos fechados conversei com a morte
E , esta me pareceu tão razoável
Tão aprazível
E, não medonha como me falaram.
De olhos fechados
Percorri desertos inteiros
A procura de companhia,
De vozes humanas a confessar vilezas e
fraquezas
Mas, decepcionada só encontrei heróis de
si mesmo
A se vangloriarem de feitos absurdamente comuns,
previsíveis
Alguns a se vangloriarem dos caros
cobres e metais que acumularam,
das histórias românticas que imaginaram.
Mas não viveram.
Dos abismos visitados só em devaneios.
De olhos fechados
Saí procurando entre meus livros e escritos
A palavra que me redimisse
Que fosse absolvição para todos meus pecados,
Que fosse remédio para todas minhas mazelas,
Que valesse a pena acordar.
E a mão e o dedo em riste procuravam
Trôpegos e ofegantes
Até que de repente
Um tremendo calafrio
Guiou-me até você:
- poesia.
Há poesia em tudo,
Até na morte,
Na falta de sorte,
No corte do dedo,
Na flor que não desabrochou
E murchou ainda em botão
No fracasso conjugal
No amor impossível
Na metade de lua inteira
Postada no céu sobre nossas cabeças
A nos condenar a um lirismo incomensurável,
Infecto-contagiante,
A nos subir pelas veias,
a nos entranhar pelos pulmões
e, num suspiro reprimido pela modernidade
Há poesias ambulantes e portáteis
Em mp3, ipod em celulares
Até na internet
Palavras, emoções e excrementos
Frutos de catarses,
Escarros de alma.
Enfim, há a poesia em tudo.
Em tudo,
até em andar de olhos fechados.