Último trago

Joguei fora o filtro, o isqueiro, e com ele, todo o peso.

E lá vou eu dar mais uma chance ao recomeço,

esperando que não seja mais um erro,

de nenhum dos lados dos quais estou em receio.

O ciclo que se fecha, um suspiro travesso,

a esperança que tinha, agora é apenas um tema grotesco.

Na nicotina que exalava meus pulmões até hoje,

como um fluxo que avança e me alcança.

Na traqueia, se abre um tubo que guia os meus brônquios,

que se ramificam nos pequenos alvéolos,

onde a troca acontece: fumaça, oxigênio e todos os nossos momentos.

Apenas um último trago, um gosto puramente amargo.

Me imponho goela abaixo um fim a todo esse estrago.

Mas houve um aviso de uma certa fantasia.

Desejos e fantasia não faziam parte desse roteiro.

Ora, o roteiro ao qual acatei meu papel por inteiro.

[Corre tempo, corre!]

Dessas lembranças que ficarão perdidas em um tempo tão longo,

onde as promessas sussurradas

se desfaçam como as folhas ao vento.

Se foram no silêncio, em um triste e não muito simples lamento.

Apego se despede, mas deixa sua marca, que se vai com o tempo.

Corações desatados, um rumor que não para.

E nesse fim, um lamento profundo:

um amor que se extingue, perdendo-se nesse mundo.

Anna Gonçalves
Enviado por Anna Gonçalves em 22/09/2024
Reeditado em 04/11/2024
Código do texto: T8157624
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