Último trago
Joguei fora o filtro, o isqueiro, e com ele, todo o peso.
E lá vou eu dar mais uma chance ao recomeço,
esperando que não seja mais um erro,
de nenhum dos lados dos quais estou em receio.
O ciclo que se fecha, um suspiro travesso,
a esperança que tinha, agora é apenas um tema grotesco.
Na nicotina que exalava meus pulmões até hoje,
como um fluxo que avança e me alcança.
Na traqueia, se abre um tubo que guia os meus brônquios,
que se ramificam nos pequenos alvéolos,
onde a troca acontece: fumaça, oxigênio e todos os nossos momentos.
Apenas um último trago, um gosto puramente amargo.
Me imponho goela abaixo um fim a todo esse estrago.
Mas houve um aviso de uma certa fantasia.
Desejos e fantasia não faziam parte desse roteiro.
Ora, o roteiro ao qual acatei meu papel por inteiro.
[Corre tempo, corre!]
Dessas lembranças que ficarão perdidas em um tempo tão longo,
onde as promessas sussurradas
se desfaçam como as folhas ao vento.
Se foram no silêncio, em um triste e não muito simples lamento.
Apego se despede, mas deixa sua marca, que se vai com o tempo.
Corações desatados, um rumor que não para.
E nesse fim, um lamento profundo:
um amor que se extingue, perdendo-se nesse mundo.