Causa mortis
Eu estou aqui, em um campo pós batalha,
Cadáveres entre ferro e fogo, ensopando de sangue a palha,
Um antigo campo florido,
Hoje um campo de batalha.
Eu estou deitado, totalmente ensanguentado,
Minhas roupas pesando em líquido,
Um campo cheio de corvos,
Todos famintos e fervorosos.
Ouvi teu grito desesperado,
Eu ouvi e deixei de lado,
Pois é sua vez de estar na escuridão,
Igual a este que chama de peito, este porão.
Ao invés de perder minha túnica e brasão,
Eu perdi meu coração,
Foi coletado, ofertado em oração,
Pois até um guerreiro, merece brasa, merece afeição.
Carregado por ti, herdado para si,
Um coração ainda pulsante,
De um amor distante,
Que logo se apresentará,
Me dirá o seu olá.
Belo, querido, recíproco e amado,
Leve meu coração que entrego de bom grado,
Pois do teu tom de voz,
Amei teu roxo feroz.
Enquanto entro em devaneio,
Depois que foi, depois que veio,
Assim que levou meu coração ainda pulsante,
Diante da morte eu não estou relutante.
Entrei em parafuso, ainda confuso,
Perguntei as estrelas,
Que entre elas,
Eu sou a cadente?
Esses corvos famintos, prontos para devorar,
Pele, carne, ossos irei assimilar,
Pois enquanto eles me devoram,
Todos eles oram.
E enquanto picam e se deliciam,
Pelo amargor que me digeriam,
Não voltam da minha carne avermelhados,
Todos são corvos azulados.
Não deixarão restos nem ossos,
Aqui jaz a ligação dos nossos,
Reencarnei como um Corvo Cerúleo,
Longe do teu domínio ecúleo.
Enquanto meu coração vai com meu amado,
Ainda em pulsar,
Vou deixando-o responsável,
Por ser amado e me amar.
Desta trova irônica,
Que de trova não tem nada,
Faço minha ressureição icônica,
Morrendo tudo que você representava.
Que meu coração, hoje dedicado,
Seja embriagado por amor,
Pois dessa tua metamorfose inconstante,
Só me representou dor.
Ao meu amado, de tom arroxeado,
Me entrego a ti, sem remorso,
Te amo, como nunca tinha amado,
Plante meu coração, em ninho nosso.