Só o cãozinho cruza a rua deserta

As árvores fazem sombra para nada

E no silêncio da tarde quieta

O mundo parece estar noutra galáxia.

 

Estou na esquina da rua estática

Foto instantânea, insondável calma

No horizonte que longe se adivinha

Uma palmeira acena sua palma.

 

É como se me chamasse

Para uma cerimônia ancestral

Na tarde de dourado silêncio

De um não existir magistral.

 

O cãozinho, agora, foi-se embora

Seguro do rumo a desbravar...

Eu feito homem, tão só espero

A noite que breve há de chegar.

 

Vou indagar ao primeiro vagalume

O nome daquela rua espantosa

Descobrir se Deus a criou por ciúme

Das desvairadas avenidas luxuosas.

 

Porque a ela quero voltar

Noutra tarde dos meus devaneios

E atravessar o paço vazio

Carregando minha dor e meus anseios.

 

Crédito da imagem: https://sonhoastral.com/articles/2753