Dedilho o silêncio
E este produz notas musicais,
Uma música em ritmo lento
Que tem a velocidade de suaves ondas
E do ondular de brisas que refrigeram a alma.
Guardo-me num meditar
E sopro palavras que parecem ser uma oração,
Mas que se faz em versos que se costuram em poesia.
Ouço o silêncio, o tateio com a audição,
Não vejo com os olhos da face
Mas com a visão que parece estar dentro de meu ser.
Imagens vagam em minha mente
São estranhamente tão velozes,
Porém é como se as memorizasse lentamente.
Vago por um caminho a carregar uma espécie de lampião,
Luz sombreada, mas que parece desvendar a escuridão.
Vejo rostos distantes e outros que querem se aproximar,
São bocas que se movem com palavras cheias de silêncio,
São olhares que parecem guardar a chave de cada alma.
Eis que então vejo flores, capturo um leve perfume perdido,
E a memória parece invadir o presente,
Para fugitiva adentrar ao tempo futuro,
E por lá parecer querer ficar,
Não querendo mais ser passado,
Pois que o ido, parece já não existir,
E de algum modo ela quer se mostrar viva.
E viva está, e então vejo mãos e um rosário,
São dedos a dedicar cuidadosos cada conta.
Ali existe uma figura casta, uma fonte de água pura,
Tenho vontade de lavar meus olhos nestas águas,
Pensando assim abençoar através deles todos os meus sentidos.
Talvez se possível gostaria de beijar aquelas mãos.
E então me vejo sentado em poltrona que me abriga o corpo,
Enquanto minha alma vaga dispersa,
Visita lugares tão distantes, que são tão íntimos a mim,
Mas que eu em consciência desconheço.
E então abro uma espécie de livro,
Vejo que são minhas letras que escrevem suas páginas.
E de repente um leve vento, as páginas ganham asas,
O livro se faz espécie de ave noturna a avançar no horizonte,
E o mar não é o oceano, mas as profundezas do céu.
E ela bateu asas e voou....
02/04/2023
Gilberto Brandão Marcon