BUCÓLICA
A paz branca sobre o muro caiado,
Por onde caminha, em silêncio, um gato.
Canta o vento,
Levanta as saias das cortinas.
Rangem as dobradiças
Das portas antigas
Que resguardam a privacidade
Dos meus pensamentos.
As pétalas das flores temem
Um mal me quer iminente
Que ronda por fora dos muros
Dentro do mundo.
Meu coração é fluente
E ao mesmo tempo, calado.
À noite,
Eu ajeito os travesseiros,
Me viro de lado
E finjo adormecer tranquila.
Pés desnudos no gramado,
Piso as sombras das borboletas
E coleto folhas secas.
O sol quarado pelos ramos
Ilumina, de repente,
Um pensamento
Que eu tento não ter.
Vem a brisa, sopra-o para longe,
Por cima do muro caiado
Sobre qual caminha o gato
A espera de um pássaro distraído.
E o pensamento cai, desolado,
Sobre a calçada rachada
Marcada de passos.