BUCÓLICA

 

A paz branca sobre o muro caiado,

Por onde caminha, em silêncio, um gato.

Canta o vento,

Levanta as saias das cortinas.

 

Rangem as dobradiças

Das portas antigas

Que resguardam a privacidade

Dos meus pensamentos.

 

As pétalas das flores temem

Um mal me quer iminente

Que ronda por fora dos muros

Dentro do mundo.

 

Meu coração é fluente

E ao mesmo tempo, calado.

 

À noite, 

Eu ajeito os travesseiros, 

Me viro de lado

E finjo adormecer tranquila.

 

Pés desnudos no gramado,

Piso as sombras das borboletas

E coleto folhas secas.

 

O sol quarado pelos ramos

Ilumina, de repente,

Um pensamento

Que eu tento não ter.

 

Vem a brisa, sopra-o para longe,

Por cima do muro caiado

Sobre qual caminha o gato

A espera de um pássaro distraído.

 

E o pensamento cai, desolado,

Sobre a calçada rachada

Marcada de passos.

 

 

 

 

 

 

 


 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 30/06/2022
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