Macuxi, Guajajara, Guarani
Não tomarei por liberdade essa farsa!
Ato próprio dessa memória de um povo sacrificado,
de um povo errante nessa fome permanente de amor e comida.
Quanta intolerância, nessa luta desigual, sem esperanças?
Não deixarei essas cicatrizes adormecerem entre palácios,
ausente de justiça, aprisionando nossas vozes, dissimulando,
corrompendo nossos sentidos atormentados, necessitados!
Restou essas convulsões de retóricas e mentiras, entre lutas!
Eram cinco milhões, agora menos de um milhão!
Dizimados por homens brancos, por conquistas, por intolerância,
explorados por garimpeiros, por cobiça e desrespeito,
nesse mar de verdes, de florestas e harmonia, entre sonhos.
Não tomarei como verdades essas mentiras, essa catequese,
Essa transformação de mentiras em verdades desses jesuítas.
Esse roubo aos nativos, destruindo suas culturas, suas crenças.
Atropelo é o que fica nessa hipocrisia desses governos desmedidos!
Não deixarei meus passos se cruzarem nessas sombras,
de sofrimentos paralisando tantos corpos amargurados,
provocando estertores nesse espectro mórbido, entre confidências,
nessa tarde famélica, nessa luta desigual, restaram descompassos.
Não falarei mais nada, diante dessa tristeza árida,
dessas mazelas circundantes, restou o meu silêncio,
das noites a esmo, entre medos, restou um corpo exausto,
das casas tristes, com olhos opacos, restou esse cansaço.
Agora o tempo faminto de amores e comida dessa gente.
Tempo de canções inebriantes nessas lutas permanentes,
desses seres errantes, buscando seus espaços, seus refúgios,
entorpecidos diante de tanta covardia, nesse exílio, nessa cena.
Deixa-os permanecer em suas terras, com seus sonhos!
Terras dos Guaranis, Ianomamis, Potiguaras, Ticunas, Caingangues,
sei lá quantos e tão poucos dilapidados, silenciados, entorpecidos.
Deixa-os no aconchego de suas ocas, dos seus afetos, dos seus sonhos...