Pergaminho.

Pergaminho.

Lá em Búzios perto da rua das pedras como em uma poesia singela

passa pela janela dos meus pensamentos um rapaz com um tubo em forma

de bolsa nas costas, eu imaginei um pergaminho raro, em tubo de ouro,

com palavras nunca escritas e com dizeres nunca ditos, em uma língua

nunca registrada, de um povo e uma sociedade sem identidade.

Um pergaminho de sete metros de comprimento, e por um momento,

o sol se esconde, e o céu fica mudo, às onze horas e onze minutos.

E se abre um portal na rua das Pedras. Eu lembro do rapaz,

não sei porque, seu nome é Rafael, esses escritos não tem idade

nasceram antes de passarem pela ponta do lápis, eu sei todo seu conteúdo,

só não me pergunte como. Você lembra da árvore da memória, linda,

onde íamos descansar? E dos seus frutos cor de rosa, da sabedoria.

Aí desce a nossa volta, uma deusa vestida de luz, com um manto azul

e todo o imenso campo verde reluz e irradia o amor e a sabedoria.

E nesse dia ficou a alegria de sermos eleitos e gravado na memória,

em todos os seres daquela raça, a nossa história. Mas dito isso,

fomos expulsos do paraíso e só voltaríamos quando praticássemos

os ensinamentos do pergaminho. Mas como? Se nada estava escrito.

Olhei para o céu, e pensei, é só um pergaminho. E não é do Mar Morto,

talvez outro, também não está perdido. Quem sabe o evangelho de Judas,

ou algo parecido. Olhei para o céu e pedi ajuda. E só um pergaminho.

O resto é mistério e todo mistério vem do céu, e só um pergaminho,

sem dizeres, sem escritos, o que vale é o exemplo vivo de um rapaz

andando na praia carregando nas costas todo o conhecimento do mundo

para que os que venham atrás possam ler e conhecer a verdade

e conhecendo a verdade, abraçar a liberdade de ir e vir nos ensinamentos.

Devemos colocar todo o conhecimento onde possa ser partilhado

pois conhecimento guardado para si mesmo e tesouro sem valor.

Nossos defeitos devemos carregar em uma mochila a nossa frente,

para não esconder de nós mesmos, e eliminá-los com o passar do tempo.

Dizem que para sermos livres temos que abrir mão do nosso livre-arbítrio,

sufocar o próprio ego, entregar a nossa vida ao divino mistério.

Talvez eu prefira ler o pergaminho sem nada escrito

pois na verdade ao contato com a luz de uma vela,

ele se revela, e faz do que é segredo conhecido,

e do mistério revelado. Aquele que já tem, mais será dado.

Ricardo di Paula, 04/10/07. am 09:40.