A Colheita – Poema XXII – Rabindranath Tagore
Esta manhã de outono já se cansou de tanta luz.
Se as tuas canções se tornaram vacilantes e lânguidas, dê-me um pouco a tua flauta.
Brincarei com ela ao meu gosto.
Vou colocá-la no meu colo, depois tocá-la com os meus lábios, e depois deixá-la repousando na relva ao meu lado.
Na solene tranquilidade do
entardecer colherei flores para cobri-la com pequenas grinaldas. Vou enchê-la de perfume e adorá-la com a lamparina acesa.
À noite virei ao teu encontro e te
devolverei a tua flauta. Então nela soprarás a música da meia noite, enquanto a solitária lua crescente vagueia em meio às estrelas.
Gitanjali, 19
Se não falas, vou encher o meu coração
Com o teu silêncio, e agüentá-lo.
Ficarei quieto, esperando, como a noite
Em sua vigília estrelada,
Com a cabeça pacientemente inclinada.
A manhã certamente virá,
A escuridão se dissipará, e a tua voz
Se derramará em torrentes douradas por todo o céu.
Então as tuas palavras voarão
Em canções de cada ninho dos meus pássaros,
E as tuas melodias brotarão
Em flores por todos os recantos da minha floresta.
– Rabindranath Tagore, no livro “Gitanjali (Oferenda lírica)”.