O Poema dos dias.

Era uma vez, um dia que amanheceu

Simples, puro e singelo

E que nos trouxe uma poesia

Um poema que versava sobre o dia que nasceu

Onde o sol brilhou pra mim e pra vocês

Como uma folha em branco

Um tecido de linho

Um pássaro num ovo em casca

Uma garrafa ainda cheia de vinho

Uma lasca de madeira que queimava

Pra acender a fogueira do longo da vida

E que logo se espalhava

Pelo dia, pela vida toda; inteira

Era uma vez uma manhã

Que não era como outra qualquer

Era a primeira

Tão pura, a ponto de desconhecer

Que de fato nem sempre a primeira

Chega a ser a mais importante

Apesar da primazia

Com o tempo ele tornou-se

Apenas um outro qualquer

Só mais um dia

Os sinais do mundo

Espalhados pelo caminho

Assim como o branco do linho, de vinho entornado

Um pássaro que alçava voo

E o galgou pra distante do ninho

O poder sutil do tempo

Uma tarde se setembro

A flor que se abriu

O olhar que se foi

Existe uma parte na vida

Que se chama nunca mais

Tempestade em tempestade fez o rio

O leito, a corredeira

Que correu do seu jeito a vida inteira

E que um dia secava

Porque nada é pra sempre

Além do nascer dos dias

No seu ciclo eternamente interminável

Onde a ausência de regras

Era a única que se seguia

Amanhece pra que pássaros acordem

Que se entreguem a formidáveis canções

Em poemas que versassem

Sobre cada dia que corresse

E que fossem ímpares aos pares

À espera de nada, nem de olhares.

Edson Ricardo Paiva.