DÁ A ALMA O QUE É DA ALMA

Na porta da minha casa 
diária e pontualmente 
sempre às vinte e duas 
 o motociclista passa e 
−Propósito?− 
abre a boca da moto. 
Segundos que me tiravam 
 versos ditos por Bethânia  
notícia da TV 
e me forçava reler 
−Uma coisa boa− 
palavras do livro que lia 
−Os demais eu perdia− 
Ao grito da moto 
que se ria de mim 
do meu dormir arrancava 
atazanava e gozava 
dei o troco prestando atenção  
quis saber sua razão 
e, pontualmente, 
às 22 de todos os dias 
eu paro 
me preparo 
a ouvir o concerto de segundos 
Um som menor 
entra em minha cabeça 
em crescente vai às alturas 
e em queda livre sai 
no outro ouvido 
some. 
 Após o concerto 
a vida me é devolvida 
sem zangas, sem risos 
O que é do motociclista 
−Seus segundos de fama− 
dou a ele  
O que é da minha alma 
−Silêncio e paz− 
A ela preservo. 
Ismeraldo Pereira
Enviado por Ismeraldo Pereira em 06/01/2021
Código do texto: T7153282
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