Uma horta de flores que Deus me desse.

Eu tanto pensava em colher em vida

Um espaço entre quatro linhas

Linhas tortas, quiça tivesse

Uma horta de flores que Deus me desse

Regadas da dor doída, ao longo de uma jornada

Eu tanto quis, de querer

Um querer que me foi verdadeiro e existe ainda

Um simples canteiro de céu

Daqueles que nos ensinaram que existia

Desses, que eu tanto ensino a quem puder

Que eles existem

Um pedaço qualquer entre algumas linhas

Daqueles, com nome da gente escrito

Que ao longo do tempo é que se descobre

O quanto era pobre esse nosso pensar

Sobre dor doída ou de sofrimento

Não era, essas coisas não eram minhas

Era apenas sobre toda raiva

Que não fosse devolvida

Era sobre deixar aqui, quando voltar

A todo pedido de desculpas

Que devia ter pedido e que não foi pedida

Era sobre aprender a enxergar

Uma grande conquista

Um tanto assim de céu que já temos

Todo dia sobre as nossas cabeças vazias

Repletas de atmosferas

Era sobre saber ver apenas

Pequenas coisas que estão bem diante das nossas vistas

Pouco importa as flores que cresçam lá

Que nem cresçam, que nasçam mortas

Gira sobre a complexidade das coisas simples

Que tanto nos esforçamos em torná-las complicadas

E, no final, o mais nos interessa

Não passa de um monte de nada, de todo sinceras

É a surpresa de perceber

Que agora, quase nada mais nos surpreende

São as dores que não mais queremos

É o amor que nos ensina a não querer deixar elas aqui

Pra que outros também as sintam

E essa forma sucinta e profunda de viver a vida

É que haverá de regar ou não

Os jardins da outra vida

Porque tudo sempre recomeça

No lugar exato onde termina

Esquecer a pressa de sentir-se

Triste ou feliz

Essas coisas vem

E são sempre mais pesadas para quem não quis

Quando tudo volta e se mistura

E nada mais se encontra

É ali que se acha o segredo

As flores, canteiros, os medos da vida

Uma orquestra de letras e notas misturadas

Volta tudo pro universo enorme

Com o nome da gente escrito

Onde tudo é mais pleno e bonito

Quanto mais pequeno

E sereno é o pranto

Se eu pensar menos em mim

A vida é mais simples assim.

Edson Ricardo Paiva.