Amarelinha.

Se eu tiver que prestar contas

Que seja pra Deus

Se tiver que errar

Que seja na loteria

Se for pra acertar

Também

Se tiver que sentir saudade

Que seja da infância

Se tiver que ser difícil

Que sejam palavras cruzadas

das coisas que não entendo

Me basta o extrato bancário

Aliás

Se for pra me cobrar

Que seja o cartorário

Pois

Se eu tiver que pular

Que seja amarelinha

e se for pra rir

Que seja de mim mesmo

e se for pra me bater

Que seja a minha mãe

que teve anos de prática

e batia com muito amor

Mesmo quando doía

Aliás

Se é pra doer

Que seja na barriga

de tanto rir

Se for pra ter briga

Que seja na TV

Se for pra não me entender

Que sejam meus poemas

Se tiver que haver problemas

Que seja na linha telefônica

No dia em que o cartorário

Me telefonar cobrando

Se for pra eu não entender

Que seja o gato aqui de casa

E se for pra cortar

Que sejam as unhas

Se for pra me tirar água dos olhos

Que seja uma maçã bem verde

Pois

Se for pra exigir

Que sejam meus filhos

E se for pra fazer sacrifícios

Que seja no almoço de domingo

na casa da minha mãe

Numa mesa bem cheia de gente

Ela sempre põe um pouco mais

de comida no meu prato

e sempre foi muito exigente

Se eu tiver que voltar atrás

Que seja pra buscar a carteira

Que vivo esquecendo em casa

Se eu tiver que jogar

Que seja bolinha de gude

Se eu tiver uma atitude

Que seja uma vez só

Pois, se tiver que ser um saco

Que seja de batata frita

Mas

Se for pra morrer

Que seja de rir

E nesse momento de alegria

Que alguém tire um retrato

E, se eu tiver que dizer adeus

Que seja pra tristeza

Edson Ricardo Paiva