O boxeador
Paul Simon disse que a luta da vida
era como uma luta de boxe,
só que contra o adversário maior,
mais pesado, mais forte, rápido
e impiedoso.
Pouco importa o estrago, tudo bem,
ninguém lembra de alguém
que tenha saído
deste ringue com vitória.
O certo é dar o melhor de si,
ser honesto com o espírito combativo
e respeitar o fragor do combate,
beber a lágrima, o suor e o sangue
(se preciso)
e tentar dormir bem aconchegado
sempre que puder.
Hoje, depois de muitos golpes trocados,
descobri a razão para resistência.
Adquiri o que o dinheiro conhece,
barganha, mas que, ante tamanho pejo,
seu poder de sedução não fede ou cheira.
Não tive nada. Não tenho nada.
Pelo andar da carruagem
os cavalos se foram e jamais
terei alguma coisa.
Sou apenas um rapaz latino-americano
sem dinheiro no banco,
sem parentes importantes
venho de uma Ilha mais retrógrada
que qualquer interior,
e aprendi que o teto, o agasalho,
o trabalho, o prato de sopa quente
sob o véu da noite, a cancha apertada
no escarcéu urbano e tudo o mais,
perece antes da aurora se não existe
paz.
Pena que para chegar até aqui
tenha perdido muito mais
do que sangue e dentes.