O boxeador

Paul Simon disse que a luta da vida

era como uma luta de boxe,

só que contra o adversário maior,

mais pesado, mais forte, rápido

e impiedoso.

Pouco importa o estrago, tudo bem,

ninguém lembra de alguém

que tenha saído

deste ringue com vitória.

O certo é dar o melhor de si,

ser honesto com o espírito combativo

e respeitar o fragor do combate,

beber a lágrima, o suor e o sangue

(se preciso)

e tentar dormir bem aconchegado

sempre que puder.

Hoje, depois de muitos golpes trocados,

descobri a razão para resistência.

Adquiri o que o dinheiro conhece,

barganha, mas que, ante tamanho pejo,

seu poder de sedução não fede ou cheira.

Não tive nada. Não tenho nada.

Pelo andar da carruagem

os cavalos se foram e jamais

terei alguma coisa.

Sou apenas um rapaz latino-americano

sem dinheiro no banco,

sem parentes importantes

venho de uma Ilha mais retrógrada

que qualquer interior,

e aprendi que o teto, o agasalho,

o trabalho, o prato de sopa quente

sob o véu da noite, a cancha apertada

no escarcéu urbano e tudo o mais,

perece antes da aurora se não existe

paz.

Pena que para chegar até aqui

tenha perdido muito mais

do que sangue e dentes.

Grouchesco
Enviado por Grouchesco em 20/11/2019
Reeditado em 20/11/2019
Código do texto: T6799030
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