ODE À ANTI-PAZ
«No Dia Mundial da Paz»
“Parafraseando Natália Correia e Jorge de Sena”
Deixemos a mentira, as lágrimas, as trevas, a fealdade,
Amemos os animais dos campos e o coração do homem,
Toleremos a fúria da tempestade e desculpemos o caos,
Assumamos a tristeza, a água, o ruído, a pacatez,
Aceitemos a agreste verborreia e o silêncio das ribeiras,
Amemos o rigor do inverno e o breu da escura noite,
Admiremos os cardos da planície e as secas das lameiras,
Soframos os picos das roseiras e da ingénua ignorância,
Optemos pela sequidão do rosto dos nossos inimigos,
Creiamos nas banalidades e nas reais alucinações,
Agarremos o ódio, a escravidão, os vazios do abismo,
Ajustemos a poluição destas loucas primaveras,
Olhemos o passado de todos os pequenos obscuros,
Rompamos as estéreis viúvas e as inférteis montanhas,
Rasguemos os risos das filhas vestidas de brancas nuvens,
Alegremo-nos por darem à luz as bênçãos da paz.
Eu te compreendo ó guerra, eu te grito ó maldita,
Ó Diabólica, ó azarenta, sempre a desfavor do rural sossego,
Com os teus braços que exaltam os estandartes do riso
Com o teu abraço para com as armas do poder voraz,
Fecha as portas desta Existência e ama a própria Morte!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA