EU DILACERADO E MICROCOSMO
Voou do peito um passarinho novo,
E foi-se cedo, foi-se tristemente...
Da árvore cortada era o renovo
E dos trinados tinha o mais cadente.
Em muito anos, nenhum ano-novo
Abriu-se em flor, sereno, reluzente,
Só a lembrança de um gorado ovo
Fez-se mais viva, fez-se mais presente.
Um vão no peito ecoa uma saudade,
Qual deserto em que zunem ventos frios,
E suportar tamanha atrocidade,
Represar toda a água desses rios,
É ter no próprio peito a claridade
De sol, que doura vales e vazios.