EU DILACERADO E MICROCOSMO

Voou do peito um passarinho novo,

E foi-se cedo, foi-se tristemente...

Da árvore cortada era o renovo

E dos trinados tinha o mais cadente.

Em muito anos, nenhum ano-novo

Abriu-se em flor, sereno, reluzente,

Só a lembrança de um gorado ovo

Fez-se mais viva, fez-se mais presente.

Um vão no peito ecoa uma saudade,

Qual deserto em que zunem ventos frios,

E suportar tamanha atrocidade,

Represar toda a água desses rios,

É ter no próprio peito a claridade

De sol, que doura vales e vazios.

Edgley Gonçalves
Enviado por Edgley Gonçalves em 02/12/2017
Código do texto: T6188481
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