Paz
Eu olho para cima e, recuando,
vejo a luz da lâmpada através
de uma leve torrente... Eu percebo
minha pupila dilatando, o prazer
no vício; como uma tela, chuviscando
com continuidade, vejo se apresentarem
esses pequenos reflexos, ricos reflexos,
tão poucos em tantas pequenas gotas,
saciando como se alimentassem.
Todos eles eu busco.
Vejo um quadro. Já não há profundidade.
Meus olhos focam a exuberante luminosidade.
Uma vinheta escura toma minha visão,
uma boa parte se enerva, e desapreço,
e só dura o facho.
Fecho os olhos, e abrindo
recebo o golpe da luz em minha retina,
os olhos recuam acoados
e eu vou esmaecendo,
e o ambiente vai-se esmaecendo também.
Sumo completamente, e somem juntas
essas perturbações, eu me livro
de todos que se saciam
do tormento;
e do tormento eu vou dormente
adormecendo; eu fico sempre
atrás da água, tão mísera,
desta tela d'água, descendo;
como um louco eu vou crescendo
observando as gotas claras, em vão
dispenso a vida afora.