manhã de papel ou ficha cadastral
não tenho a menor intimidade com drogas e não acho nada de elogiável nessa constatação, do que se infere que também não acredito que me sinta em constantes condições de conforto só por isso, embora seja bom saber, admito, que não tenho esse tipo de dependência; não uso palavras sintéticas ou construídas especificamente para a obtenção de determinados resultados; não acredito que reúno condições de me comportar de modo diferenciado, descolado ou que possa ser confundido com alguma coisa moderna ou diferente do vulgar; minhas roupas são comuns e tendem a ficar antiquadas, na medida em que envelhecemos com nossas roupas; juro que não vivo procurando efeitos que não tenham causas; acho a arquitetura moderna lógica, prática e funcional, mas desconfio de que seja essencial, sem falar que a sua condição de modernidade é efêmera – logo depois vem outra; ainda duvido sinceramente de que possa existir algo mais salutar, elucidativo, jovem e destituído em sua totalidade do envelhecimento precoce do que o SIMPLES; reconheço que não acontece com frequência, mas eventualmente consigo divertir-me comigo, achando engraçado sentir-me incapacitado para um monte de coisas ou para propor soluções que seriam por outros facilmente obtidas e identificadas, sabendo-se que a degustação da comicidade pode ser saudável tanto para quem a produz quanto para quem é dirigida; sou falho e, assim, filho das mais abjetas e cândidas condições humanas; brasileiro nato e filho do mundo, mas sem a mesma convicção.