Sempre te pedirei perdão, meu irmão


HOJE É DIA DO IRMÃO
E A TI, MANINHO,
EU SEMPRE PEDIREI PERDÃO.

 
LEMBRO QUE CERTA VEZ TE MAGOEI.
O DIA (?)  
JÁ NEM SEI,

MAS JAMAIS ESQUECI MINHA ESTUPIDEZ.
 
 
TE MAGOEI COM PALAVRAS DURAS.
DEPOIS VI TEUS OLHOS LACRIMEJANDO.
MESMO ASSIM,
CONTINUEI FALANDO, TE TORTURANDO...

ATÉ QUE, NUM MOMENTO,
PERCEBI A INUTILIDADE DE MINHAS PALAVRAS.
 
POR QUE MINHA IRA?
É QUE TU NÃO ME IMITAVAS
E ISSO MAIS E MAIS ME IRRITAVA.

EU QUERIA BRIGA, RIVALIDADE, INTRIGA,
ATÉ INVENTAVA PRETEXTOS, MENTIRAS...
E TU ME OLHAVAS,
MAS SOMENTE CHORAVAS.  

 
INDIGNADO COM A TUA MUTEZ,
SAÍ APRESSADO,  PERTURBADO, DESMORALIZADO,
MEU ORGULHO FERIDO, ENRAIVECIDO E CEGO,
INTRIGADO COM A FRAGILIDADE DO MEU EGO,
NO ÍNTIMO, QUEM SABE,
CENSURANDO MINHA INSENSATEZ...

 
ENTREI NO CARRO DO NOSSO GENITOR
E DESCARREGUEI TODA MINHA DOR NO ACELERADOR.
COMO SE PISASSE FORTE NO MEU EGOÍSMO
E NA MINHA FALTA DE AMOR.
 
AÍ, DESESPERADO, DESCONCERTADO,
DESOBEDECI AO SINAL DE TRÂNSITO:
ATRAVESSEI,
IH!...  
NÃO ERA MINHA VEZ...


O QUE OCORREU? 
NÃO, NÃO SEI.

 
ACORDEI NUM HOSPITAL DE TRAUMAS,
ENFAIXADO ATÉ A ALMA.
E VI SÓ A TI, MEU IRMÃO,
ALI AO LADO,

SORRINDO, POR ME VER SALVO,
ORA ME ENCORAJANDO, DIZENDO-ME SALMOS,
ORA AINDA CHORANDO,
VENDO-ME DESSA VEZ INERTE
E CIRCUNSTANCIALMENTE CALMO.

NEM APERTAMOS NOSSAS MÃOS
PRA ESSE FELIZ RECOMEÇO,

PRA CELEBRAR AQUELE INSTANTE DE PAZ..
SEPARAVA-NOS UMA ESPESSA CAMADA DE GESSO.

 
NUM RECANTO DO QUARTO,
LENÇÓIS ENCARDIDOS DE SANGUE.

ERA O NOSSO SANGUE, MEU IRMÃO,
INUTILMENTE DERRAMADO.