As notícias de ontem foram engolidas
Pelo manto eterno e negro,
Devoradas pela chama das estrelas
E o vento mudou de rumo
Levando as nuvens carregadas
De estupor, nostalgia e desespero.
Hoje, mal o sol floriu o céu,
Abri janelas , descerrei cortinas
E cantei com as avezinhas!
Chovera e as pedras da rua
Estavam brilhantes e limpas.
As beatas passavam compostas,
Os velhos jogavam às cartas,
Os meninos corriam nas bicicletas,
E os namorados passeavam de mãos dadas
Uma doçura inaudita paira e afaga
Num abraço que eleva e mitiga
Até escutarmos outras notícias
Falando de miséria e ruína...
Façamos de conta que só existe o agora!
Sorvamos a hora que passa
Sabendo quanto é transitória
Desoprimemos a alma
Esquecendo os espinhos em riste
Entre as folhas da roseira
E olhemos com enlevo
As pétalas que vão abrindo
Ainda brilhantes de orvalho
Carpe diem!
Lisboa, 10/9/2005