O Milagre
Foi uma noite em que todos se foram
Pra suas casas
Pra seus temores
E eram casas em que eles dormiam
Com os seus sonhos
Em desespero
Porque as lembranças já lhes consumiam
Com arrepios
Com pesadelos
E os insones reviram os corpos
Como em chamas
Nas suas camas
Na esperança do raiar do dia
Que lhes salvassem
Da agonia
...E o sol lançou os seus raios discretos
Como quem ouve os clamores da carne
Suavemente anunciando o certo
Que estava perto
Precipitava-se
A longa espera
Anunciava-se
E todos logo partiram pra rua
Paramentados de cores ou nuas
Num esperar de uma apoteose clara
Que resgatasse aquela gentalha
Que a noite toda sofrera com espera
Daquele dia
Da nova era
Resplandeceu no céu uma luz brilhante
Transfigurando os mais duros semblantes
E a pessoas se sentiram tomadas
Pelo perfume que se espalhava
E um som estranho inundava os ouvidos
E a emoção ligava os indivíduos
E a terra toda entoava um canto
Num esperanto
Em todo seu manto
E o amor transpassou pelos corpos
E as cabeças entenderam tudo
Chegara o dia
Da alegria
Em que todo mundo viveria
A partir dali
Na mais perfeita harmonia