Doce Indiferença ?
Eu não sofro de fome
Não
Meu prato é tão farto
Que até perco a vontade de comer
Nele dançam os ossos mutilados
Das crianças famintas
E na minha barriga grita
A miséria do mundo
Ah ! o mundo é maravilhoso
Canta o poeta feliz
Da fome, do frio
O quê sabe ele ?
O quê sabemos nòs ?
Que somos felizes
Na nossa doce miseràvel
Indiferença ?
Talvez tenhamos uma vaga idéia
Quando os gritos do mundo
Nos cortam a alma
Com suas garras cegas
E nos enche o papo
Com seus delìrios ensanguentados
Eu não sofro de fome
Deveria então agradecer por isso
E ser feliz
Dessa felicidade não mais quero
Quero a dor e a revolta
A fome
Que talvez façam de mim
Uma làgrima sincera
Um sorriso que consola
Uma verdadeira palavra de amor
Talvez assim eu saiba
Semear a paz
E espantar a dor !