REALIDADES.
GUEDES.
O homem vive
Em seu ego.
E o pássaro
Passa em seu rastro.
A árvore comete o verde.
Que acorda o sonho
E alimenta o pássaro.
O homem continua
Em seu ego.
A nuvem
Passa em seu ritmo.
O rio embebe a água.
Que acorda o bêbado
Que esconde a mágoa.
O homem não
Está na folha.
A folha que queima
O fato
Que ontem foi ato
E hoje ainda é flagrante.
Algemas que prendem
A dor.
Que acorda o amor
E aumenta a espera.
O mal foi de encontro
A flor.
A flor que encomenda a morte
Que sonha com a dama forte
O beijo de alguém
Que ainda não chegou.
O pássaro voa sozinho
Em seu caminho traçado.
O céu ainda é azul
De um azul
Que não pode ser tocado
Que não pode ser mudado,
Criança enferma.
Serrado
Casa sem paredes
Não tenho a dor
Que não sinto
A verdade que não minto
A mentira verdadeira.
A vontade de uma ave
A coragem.
Invés de amar
Finjo.
Invés de sonhar
Viajo.
Não tenho o amor
Que penso,
Não penso amar
Teatral.
Não posso querer
Mas desejo.
Não quero fingir
Concordo.
E o sinal
Fechado pra mais alguém
Sem nome.
Come o que come.
Some o que assume.
Volume que não se escuta
Luta sem fim.
Por alguém que passou
Por aqui.
Por mim também.
Por bem
Por mal.
As horas que abraçam
O tempo
O dia.
A mulher morta de parto
Na porta.
Na maca.
Macaca que ainda bate
Chicote que ainda é
Fato.
Minha casa tem janela
A dela nem teto tem.
A juventude quer voar
Nas asas de um novo dia.
Esse dia não é pra mim.
A paz também enlouquece
E o silêncio parece
Que é alguém calado.
E podia ser usado
Pra que alguém pudesse gritar.
Pra que alguém
Pudesse pintar
Pudesse sonhar,
Pudesse ser.
Agora pode ser nunca
E o futuro pode ter
Passado.
Amanhã pode ser de tarde
E hoje ainda hoje
Pode ser fora de hora.
Acordo de um sonho
Que a realidade cuspiu.
Um rio
Uma arvore.
Uma casa sem jardim.
E agora é hora
De acordar.
À janela, uma luz.
Uma cruz real.
Uma dor real.
Um pássaro caiu do ninho
E foi procurar a vida.
A vida sem paz
Um sonho sem mas.
Guedes.