Pequenos acidentes
A paz do dia era semelhante a um branco campo de neve,
Imensa, plácida, fria na essência, mas cálida a seu modo,
Para qualquer um parecia impossível quebrar a calma reinante.
Qual a força cósmica que mudaria o tempo, as estações?
A vida era, pois, segura, intangível em sua beleza clara.
Seria possível descansar, fazer o desejado, nada respeitar?
O poder do imenso não iria ser tolhido por algo menor!
Um pássaro sobrevoa o nada reforçando o tom de serenidade.
De súbito algo fere a ave e o sangue goteja de suas penas negras.
O corpo sem vida cai como meteoro sobre a neve branca.
Um filete vermelho marca um curto caminho na limpidez da neve.
A harmonia é desfeita, tem fim a perfeição, mas por tão pouco?
Sobre isso nos diz Paulo: “um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gl 5:9).
Não existe bem ou poder que esteja sempre a salvo de pequenos acidentes.