relutância
não adianta me enfurnar
num quarto escuro,
ver se me aturo ou depuro
tudo o que não sei de mim
não adianta relutar,
como se eu fosse assim
um desmiolado,
um esquizofrênico paquiderme
ou como se eu fosse um germe
das coisas que acho ruins
não adianta querer descobrir
o que não consigo esconder
não adianta dizer
aquilo que sabem de mim
mas adianta viver,
sentir da vida o prazer,
pintando o quarto de branco,
não como um Saramago*,
mas só pra ver se me pago
o que reclamo de mim
*referência ao máximo escritor José Saramago,
autor de “Ensaio sobre a Cegueira”