CATEDRAL
Esta noite eu estarei tocando para as velas e vitrais.
Tocarei os meus melancólicos acordes para a solidão.
Com esses acordes, pretendo acender os velhos castiçais
que um dia, manterão aquecido o meu duro coração.
Eu vejo muitas velas em um grande altar escuro!
A neve que cai lá fora é negra! Parece incrível!
Não ouço nada. Nem mesmo um sussurro.
O silêncio que aqui predomina é indescritível.
O que me chamou a atenção foi uma pintura.
A garota que nela havia parecia ser tão natural!
Eu sei, eu sei... Era apenas uma gravura.
Mas uma gravura que me pareceu ser Real.
As estátuas nos pedestais ficavam a me observar.
Toco guitarra, e com ela, as pombas que ali dormiam.
A poeira que se levantou se espalhou por todo o lugar.
Impregnando-se nas cortinas que os ventos sacudiam.
Os meus acordes planavam pelas ruínas desta Cathedral
que parecia ter quase um século e meio de existência.
Uma catedral onde não havia portas. Só um grande vitral,
que do seu autor, não havia qualquer evidência.
Esse lugar me protege daquele sol desgraçado
que tenta ferir os meus olhos com a sua forte luz.
E aqui eu viverei preso, esquecido e abandonado.
Tendo como compania os meus versos e uma velha cruz.
Versos que são lançados ao ares pelos acordes meus.
Acordes de uma melodia que é fúnebre e fria
Melodia essa que eu jamais tocaria para Deus.
Pois eu acho que nem mesmo “Deus” a ouviria.
Melodia que eu não lembrava onde tinha ouvido.
Mas que algumas horas atrás, eu havia me recordado.
Essa música que eu insisto tocar é de um individuo
que tocou para mim, na manhã em que fui sepultado.