A GUERRA (Depoimento)
eu sou o sopro cálido
que entorpece a pura flor
de pavor,
quando surge o meio-dia...
a profanação do riso
e da liberdade
das crianças sem pátria...
o palpitar da contra-vida:
a morte.
até do verde das árvores...
desencadeadas tempestades
ao relampear de meus dentes
pestes em imundos cárceres,
humanos sepultados às pás,
cascatas de lepra
desgrenhando dermes,
sem fronteiras...
mordaça fugaz
bocas escancaradas
e sedução de espíritos,
uma de minhas facetas...
sou um monstro
de fogo e aço
(ninguém pense que sou brinquedo)
fogo consumindo
arvoredo cor de barro,
mas sou o que sou...
os homens,
esses me procuram
a mais não ter fim.
eu sou a guerra!
ódio e egoísmo
meu alimento;
insana covardia
eu alimento...
crueldade
correndo nas veias
imolada em sacrifícios
e gerada
pelo capítulo egocêntrico
do planeta...
sou castelo construído,
ruínas de outras ruínas
espalhadas no caminho
do passado...
alimento-me
como as hienas e os chacais...
igual aos outros homens,
nas minhas mãos
fantoches.
eu sou o resultado,
obra das cabeças
dos homens grandes:
enquanto se divertem,
semeiam vinganças
sob o estigma da flor
perfumada e rubra,
talvez vinda de Deus...