Armistício
 
Tristeza, guardado a sete chaves.
Abandonando o mundo,
Desprezando o que é enfado,
Querendo encontrar não mais a esperança,
Mas um pouco de efetiva verdade.
Ser estúpido! Como querer verdade?
Se o próprio mover necessita de dúvidas.
Então seria preciso de uma ilusão,
E o pior de tudo saber que não passa de ilusão.
As portas de se saber algo,
Conclui-se que a ignorância é dativa,
O saber fere antes a si,
E ignorar fere ao outro.
Todos ignorantes, e todos ferindo a todos,
Todos sabendo haverão de querer não ferir-se,
Da dor de si, haverá de não querer a dor alheia.
Quanta consideração, não mais que escassa possibilidade.
E farto de mundo, terá que encontrar graça nele.
E não vendo graça, ainda assim será farta.
E isto nada mudará, não moverá uma palha,
Pois que não há quem ou vi,
Não tem que diz,
Mas apenas um capricho que insiste em ser.
Que haverá de supor poder dispor,
Até quando o escasso fazê-lo temer a perda,
Para então descobrir que é escravo de si,
E que a liberdade comunga com o nada.
E então se tudo é nada,
É melhor imaginar uma ilusão,
É melhor reter a esperança,
Pois de que valeria tanta dor,
Pois que a ignorância do sábio,
É a pior de todas, não é vazia,
Tem muitos conteúdos,
E ainda assim nada sabe,
E então ante a natureza,
Que em parte agrada os sentidos,
Pergunta-se: valeria a pena saber?
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 24/03/2012
Código do texto: T3573608
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