A Garça
Zero oitocentos, e não é injeção na testa.
Herança incalculável,
Num tempo miserável...
Onde nem ao menos se empresta,
Vida modesta!
Na concepção,
Do leigo.
Respeito, consideração,
Sinceridade, gestos meigos.
Ah! Se não houvesse um ponto final.
Informal... De bermuda e chinelo.
As coisas em ordem, natural,
Manhã quente e doce como calda de caramelo,
Elo... Intacto.
Alheio a meu peso.
Inquebrável pacto...
Eu, ramo coeso.
Produzindo olivas.
Num deserto.
Onde decerto,
Não vêem uma alma viva.
É verdade, o mal não tira um dia sequer de folga.
Se empolga... Com choro.
Mas trouxe bolo, bolas, língua-de-sogra.
Do gosto da lágrima fiz soro.
To em estado de graça,
Alva garça... Em águas turvas.
Papai me abraça.
Agora até tempestade me cai bem, como uma luva.
Essa é porção que me resta,
Segundo Salomão.
O tempo é escasso como os dias de festa.
Tento fazer o melhor, que me vem à mão.
Vinho na taça,
massa no prato.
Em estado de graça,
Alva garça... Estabeleço contato.
Como meu bom Deus.
É assim mesmo prosaico,
Sem solenidades e costumes arcaicos.
De escribas e fariseus.
Estupefato meu olhar acompanha.
Asa delta.
Contornando a linha esbelta,
Daquela montanha.
Ah! Se não houvesse depois,
O sol se pôs... Porém sombras não há.
A lua diz: Oi!
O ontem se foi... E o amanhã é já.
Naquela casinha de sapê.
Deixo que minha alma se expresse,
Faça a prece.
Que eu não sei fazer.